
Vivemos num mundinho decente. Tudo o que choca, que incomoda, que constrange essa decência é varrido pra debaixo do tapete ou é tornado decente.
O mundinho decente em que vivemos precisa tornar as coisas palatáveis porque palatáveis as coisas viram produtos – ou seja, podem ser consumidas em troca de dinheiro.
Dinheiro que é o Deus dos nossos dias, internalizado na gente de tal forma que vivemos absortos nele dia e noite como desejariam todas as religiões. Rezamos pra ganhar mais, pra gastar mais, pra consumir mais coisas palatáveis do mundinho decente.
Aí, com esses olhos de crente monetário, de devoto consumista, de talibã dos santos produtos, você olha um dia pro lado e vê uma pessoa. Sua mulher, seu marido, seu namorado ou namorada de tanto tempo, a mãe ou o pai dos seus filhos.
Seu amor.
E alguma coisa te incomoda porque essa pessoa, ao contrário de tudo o mais, não pode ser consumida, não é palatável, não tem valor monetário a não ser como despesa em piadinha de mau-gosto. Essa pessoa é só uma pessoa. Dores, tristezas, mágoas, medos, angústias, lembra disso? É familiar pra você?
E agora, José? E agora, Maria?
Você vai acompanhar o mundinho decente e adquirir outro amor como se fosse um produto num filme, num comercial de lingerie, num tour pelo Mediterrâneo naquele navio?
Ou você vai ser indecente de verdade e dar uma banana pro consumismo emocional, escolhendo cuidar devagar, tesudamente e com olhos atentos, do amor que você tem ao seu lado?
Porque o filme termina, já lançaram uma nova lingerie, o “Costa Concordia” afundou na Itália.
Muitas vezes botar um ponto final é a melhor e a única saída.
E muitas vezes não é.
Tenha certeza no seu coração antes de decidir porque quem vai pagar a conta não é quem aconselha você a chutar o balde.
imagem: autor desconhecido
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