
Tem coisas que não servem pra absolutamente nada. Por exemplo, torcer pelo Grê… não, uma parte considerável dos meus amigos (não a MAIORIA, veja bem!) acharia o exemplo infeliz. Então, reescrevendo: há coisas que não servem pra absolutamente nada. Por exemplo, sentir culpa.
Você consegue pensar numa só serventia pra culpa – ou, como diriam os bretões do Astérix: consegue você pensar numa só serventia pra culpa?
Ah, mas eu podia ter feito diferente!
Ah, mas eu devia ter tentado!
Ah, mas eu me arrependo tanto que nem sei!
Legal, eu acredito em você, mas qual a utilidade de ficar proclamando isso se o leite já derramou?
O problema da autopunição chamada culpa é que ela paralisa, drena a confiança, te faz refém de algo eventual: um atraso ou ter-se adiantado, uma palavra ou um silêncio inapropriado, uma presença ou ausência indevida. E daí, paralisado, sem confiança e refém, você não percebe que fez o melhor que pôde naquela circunstância.
Vou repetir porque é muito importantíssimo:
você fez o melhor que pôde e não poderia ter feito diferente com as informações que tinha.
Ah, mas se eu tivesse outras informações!
Não teve! Fez a melhor escolha ontem, como fará hoje e no ano que vem. E mesmo que as escolhas passadas, presentes e futuras não coincidam, tenham mudado, sejam outras, elas representarão sempre sua melhor escolha em cada momento.
Uma vez tive um surto de culpa na frente de uma amiga por causa duma coisa que eu devia ter entendido e não entendi. De repente ela tascou:
– Bicho (sim, é uma amiga clássica!), você se dá o direito de errar?
Eu, autopiedoso:
– Mas só tô dizendo que eu devia…
Ela, impiedosa:
– Isso é pretensão!
Eu:
– Preten…?
Ela:
– …são!
E é isso mesmo! Como a culpa é sempre expressão de algo que a gente não devia ter feito ou devia ter feito diferente, então eu tenho a PRETENSÃO de não errar e quando erro minha VAIDADE me faz vestir o elegante smoking da culpa pra me justificar e parecer bonitinho.
Culpa é pretensão. Minha, tua, dele, dela, nossa.
Então, pra esvaziar a pretensão, repita pra você em voz alta, três vezes, prestando atenção e colocando seu nome no lugar dos pontinhos:
. . . . . . . . . ., não é errado errar!
. . . . . . . . . ., não é errado errar!
. . . . . . . . . ., não é errado errar!
E pare de torcer pelo Grêmio se culpar: é perda de tempo! :)
imagem: mikamatto
Errar é errado mas se eu errar paciência!
Errar é errado mas se eu errar paciência!
Errar é errado mas se eu errar paciência!
Oi Crystian, gostei muito desse “mantra” que tu criou rsrs. Isso aí! Bola pra frente tentar de outros jeitos pra ter resultados diferentes!